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Contos de Antalatar

1

 

     Fazia muito frio naquela noite. A neve caia dos céus em suas pequenas gotas de cristais, precipitando-se sobre a pálida paisagem das terras do norte. Situando-se na região setentrional do magnifico planeta denominado Haerbaron, planeta conhecido em toda galáxia pelos seus bizarros costumes considerados universalmente como “estranhos”, “primitivos” e “selvagens”, as terras do norte eram uma gigantesca região gélida e inóspita, onde altas montanhas se juntam com amplas florestas, criando uma combinação única e mortal para viajantes desatentos. A neve cobre praticamente toda essa região, exceto pelos trechos mais baixos em que se pode notar uma zona de convergência com o clima tropical-vulcânico encontrado nas áreas mais medianas do planeta. Nessa noite em particular, uma comitiva de mensageiros reais vindos do planeta Abaton prime, cruzavam essas assoladas regiões para se encontrarem com o conde Cadmus Kallas, governante das terras gélidas de Haerbaron.

- Deveríamos parar por aqui - Sugeriu um dos homens da comitiva real, ao observar as vastas montanhas que se erguiam sobre o horizonte - Não acho que seja uma boa ideia continuar após o escurecer.

- Será que é sempre tão frio assim? - perguntou um dos guardas.

- Por ora, o frio é a menor de nossas preocupações... A propósito, a ideia de acampar não é uma má ideia, logo escurecerá, e se a metade dos relatos forem verdadeiros, nós temos realmente com o que nos preocupar! Quem falava dessa vez era um homem alto e forte que obviamente era o líder daquele grupo. Montado em um esbelto corcel preto, ele ia na frente de todos, conduzindo-os através daquela imensurável floresta de neve.

        Cavalgaram por mais vinte minutos até encontrarem um lugar bom para passarem a noite. A comitiva real era composta por aproximadamente seis pessoas. Duas delas trajavam roupas formais envoltas em capas escuras que ostentavam o símbolo da realeza imperial. Preso no cinto de cada um deles, estava uma arma de raios, uma espada curta e um pequeno comunicador de curta distância. Os outros membros eram todos menos corteses, estavam vestindo uma cota de malha prata coberto por um manto pintado com o símbolo azul da família real, usavam elmos pratas e estavam equipados com lanças em uma mão, e escudos de energia na outra.

       Depois de terem montado acampamento, um dos que estavam mais formais, olhando para o líder do grupo, perguntou:

- Basilius, quanto tempo acha que ainda temos de viajem até alcançarmos o palácio de Cadmus?

- Não muito - respondeu Basilius, retirando do cinto de couro sua arma de raios, apontou-a para o meio do acampamento e disparou. Imediatamente apôs o raio atingir seu alvo, o solo na área do impacto faiscou até ser envolto em chamas, iluminando tudo ao seu redor. - Se mantivermos esse ritmo, amanhã à tarde creio eu, nós chegaremos.

        Basilius, líder dos mensageiros reais de sua majestade, era forte, alto, possuía compridos cabelos negros e olhos profundos, talvez impactados por tudo que já vira em sua longa jornada por esse universo

- Então - quis saber um dos guardas - já pode nós dizer por que exatamente estamos aqui?

        Basilius, se endireitando para sentar-se perto da fogueira, olhou para o guarda e respondeu:

 - No geral? Assuntos do estado! Vossa majestade não confia muito na gente desse planeta.

- Então, estamos aqui para fiscalizá-los?

- Muito pelo contrário, estam... - parou de falar rapidamente, tentando esconder suas últimas palavras - Você já ouviu falar sobre os Haerbareanos?

         Gaycas, um dos líderes da comitiva que estava afastado do resto do grupo montando os sentinelas, constructos mecânicos que disparavam ao notar qualquer nível de hostilidade, percebendo a excitação na voz de Basilius, se aproximou do grupo e falou:

- Não acreditem em nada do que ouviram - depois de uma longa pausa em que todos permaneceram em silêncio, continuou:

- Os Haerbareanos são descendentes dos altos elfos que vivem nas luas de Klevaron. Certo dia, depois de seu planeta natal ter sido atacado por hordas de zorks, Alaruel Hellans, rei dos altos elfos, comandou uma frota de fuga do planeta e partiu em busca de outro planeta habitável. Depois de muita procura, acabou encontrando este planeta. Aqui, Alaruel achou que poderia reerguer o outrora brilhante império dos altos elfos - parou por um momento, mantendo seus pensamentos no lugar, e depois continuou - Ele estava enganado, alguns dias depois de sua chegada, uma doença começou a afetar os novos habitantes de Haerbaron, muitos elfos morreram ou adquiriram uma natureza muito mais selvagem e agressiva; Para tentar salvar o restante do seu povo, Alaruel fugiu do planeta com os demais elfos que estavam com boa saúde, abandonando os doentes para morrerem aqui. Um ato aparentemente cruel, mas se não fosse assim, os altos elfos seriam agora um povo extinto.

- E como os que ficaram aqui, conseguiram sobreviver? - Perguntou um dos guardas que estava profundamente envolvido com a história.

        Gaycas ficou em silencio, encarando Basilius, este por sua vez, falou em um tom mais descontraído.

- Eles adquiriram uma resistência natural a doença, porem isso deixou suas peles com uma coloração roxa. - olhou para todos ao redor da fogueira e disse - como isso aconteceu...até hoje ninguém sabe explicar.

- E você tem alguma ideia do que possa ter sido? - falou um dos guardas dirigindo-se a Gaycas.

- Bom - disse Gaycas, procurando uma posição confortável para dormir - alguns dizem que eles fizeram um pacto com alguma criatura abissal, outros dizem que eles desenvolveram certos mecanismos biológicos para conter a propagação da doença. Eu particularmente não tenho ideia do que possa ter sido.

“É bom que eles também achem isso” - Pensava Basilius - “O imperador não gostará se muitas pessoas souberem da verdade”.

        Depois da conversa, todos permaneceram em silêncio e, aos poucos foram dormindo. A noite foi longa e nada confortável, o frio fazia com que nenhum deles pudessem dormir tranquilamente. Além disso, estranhos uivos e barulhos de criaturas noturnas que lembravam explosões eram uma coisa constante. Alguns dos guardas ficaram imaginando que seres nefastos poderiam estar se esgueirando através da densa floresta que os cercava. Passadas sete horas, o grupo tomou um rápido café da manhã feito com ovos de alguma ave desconhecida e alguns outros alimentos que carregavam dentro das bolsas de couro preto que estavam presas a seus cavalos. Terminado o desjejum, arrumaram suas coisas e, montando em seus cavalos, cavalgaram pela estranha floresta coberta por neve.

        Essa dia fora melhor que o anterior, a temperatura estava mais alta, o que era um excelente sinal. Depois de se locomoverem por umas três horas, chegaram ao pé de altas montanhas, todas cobertas por neve. Ao olharem para o leste, puderam perceber um pequeno vilarejo Haerbareano. O vilarejo aparentemente pequeno era circundado por uma cerca de pedra que bloqueava o acesso de estrangeiros, as casas, feitas com algum material parecido com rochas de gelo, possuíam um estranho formato triangular, característica da arquitetura dos elfos. No centro do vilarejo, erguia-se uma gigantesca estátua que Basilius pensou ser do conde Kadmus Kallas. Diferente das estátuas normais, aquela não era feita de pedra ou metal, mas de tecidos que lembravam muito algo orgânico. A estátua usava uma armadura esquisita, feita com algum tipo de material muito parecido com alguma lã de coloração cinzenta. Segurava uma lança em uma das mãos e preso no seu cinto, podia-se ver uma longa espada curvada. O fato que mais chamou a atenção do grupo de mensageiros foi a "pele" da estátua. Assim como toda a raça dos Haerbareanos, a estátua era totalmente roxa, fazendo-os lembrar da conversa na noite anterior. As orelhas pontiagudas, apontavam para a ascendência élfica.

" Uma doença" - pensou um dos guardas - "Será que nós também podemos contrair tal mal?"

        O mais curioso diante de tudo isso, entretanto, era que o vilarejo estava completamente vazio. Nenhum sinal de vida orgânica nem de qualquer outra coisa podia ser notado. Ao perceberem a solidão que pairava naquela região, a comitiva saiu de seu trajeto, indo em direção ao vilarejo que estava situado entre duas gigantescas montanhas.

- Estranho... não há nenhum sinal de combate aqui! - Observou um dos guardas reparando nas casas que pareciam intactas.

        Basilius que estava um pouco mais adiante em relação ao resto do grupo, virou-se para o resto da companhia e começou a fazer um gesto com as mãos, ordenando que eles batessem em retirada.

- Não há nada para se ver aqui - Indagou ao se aproximar da comitiva - isso não foi um ataque; por algum motivo que não consigo compreender, eles se retiraram do vilarejo.

        Ao analisar a teoria proposta por Basilius, Gaycas percebeu pegadas humanoides que migravam para fora do vilarejo. A maior parte delas ia em direção a altas colinas que se erguiam atrás do pequeno vilarejo, algumas delas porém, iam no sentido oposto, se aventurando entre as passagens íngremes das montanhas a leste.

- Vejam - berrou Gaycas em um tom um tanto surpreso - as pegadas se dividem exatamente na saída do vilarejo. Parece que alguns deles tomaram o mesmo caminho que nós.

- Interessante... Ao chegarmos no palácio, tenho certeza que esclareceremos todas nossas dúvidas - parou por um momento e depois continuou - Vamos, isso é assunto para uma futura discussão, está ficando tarde e o povo daqui não gosta de atrasos - Falando isso, Basilius ordenou que a comitiva voltasse ao caminho que estavam.

        Cavalgaram por mais dez horas por entre as montanhas. Sua viagem só era dificultada pelo relevo da região, que fazia eles terem de subir e descer várias vezes. Aproximadamente ás oito horas da noite, chegaram ao seu destino. Assim que observaram o palácio, todos da comitiva se surpreenderam com o que viram. Os altos muros de pedra agora davam lugar a ruínas de um antigo palácio, agora destruído. Tudo estava em chamas, o que demonstrava que o ataque tinha sido recente.

- Na noite de ontem... o ataque aconteceu na noite de ontem - Quem falou foi Gaycas, em um baixo tom introspectivo que demonstrara o seu pensamento alto demais.

- Vamos dar uma olhada no que pode ter sido - Ordenou Basilius - Quem neste universo ousaria atacar um planeta pertencente ao império?

        O tom de voz de Basilius era raivoso e totalmente diferente do normal. Tinha sido tomado por uma fúria insana e estava disposto a fazer qualquer coisa para descobrir quem atrapalhara os planos de sua majestade.

        Ao chegarem nas ruinas, desceram dos cavalos e caminharam lentamente tentando não fazer muito barulho. Gaycas e Basilius tinham retirado suas armas de raio e na outra mão, empunhavam as espadas. Os guardas seguravam suas lanças e carregavam os escudos de energia. Enquanto andavam, uma seta de energia cruzou os céus, atingindo o peito de um dos guardas, que caiu morto, afundando na grossa camada de neve.

- Drakars - Berrou Gaycas, protegendo-se de uma seta atirada em sua direção. - deve ter dezenas deles.

        A cento e cinquenta metros de distância, Basilius pôde ver um grupo de drakars que corriam em sua direção armados com largas espadas, machados e bestas de energia. Eram grandes répteis bípedes, possuidores de uma feição rude e áspera. Seus olhos brilhantes dotados de uma colorações alaranjada iluminavam a noite, fazendo aparecer uma multidão de globos laranjas diante das chamas. Possuíam uma longa calda e apresentavam duras escamas em todo o corpo que variavam em tons entre o vermelho e o verde musgoso. Tinham em média um metro e oitenta de altura, estavam equipados com grossas armaduras de placas feitas com algum tipo de metal negro como a noite.

- É por isso que o vilarejo estava vazio! - vociferou Basilius dirigindo-se a Gaycas - como nós não conseguimos perceber? Durante o ataque, os guerreiros daquele vilarejo devem ter vindo através das montanhas dar reforços para cá, enquanto que os civis fugiam para outra região! - depois de haver repreendido a si mesmo, pensando como não percebera aquilo desde o início, gritou em alta voz: - Preparem-se para a batalha!

        A batalha não durou muito. No início Gaycas e Basilius puderam derrubar dezessete drakars com disparos de energia da arma de raios. Quando o grupo atacante chegou perto demais, os dois líderes e os guardas restantes partiram para o confronto corporal. Um dos guardas derrubou três drakars, porém foi atingido no pescoço com um golpe vindo de um dos drakars. Um outro guarda que lutava perto de Basilius, ao ver uma seta de energia sendo disparada na direção do seu líder, se lançou no caminho, pondo o escudo em posição para tentar desviar a seta. Era tarde demais, o escudo rompeu e a seta atingiu-o em alguma região perto do fígado. Gaycas lutava com três drakars simultaneamente; após conseguir atingir um deles, os outros dois se lançaram ao seu encontro, atacando-o com golpes fortes, porém lentos. Gaycas recuava lentamente, defendendo-se com maestria dos golpes de seus agressores, ele se abaixou para desviar de um golpe que mirava-lhe na cabeça, e institivamente desferiu um golpe que perfurou a grossa camada de escamas de um dos drakars. Assim que retirou sua espada do drakar morto, o outro agressor deferiu-lhe um ataque que transpassou-lhe a barriga.

- Nãoooooooo - Berrou Basilius enquanto via seu amigo tombar na neve. Distraído com a morte de Gaycas, Basilius não percebeu uma seta de energia que fora lançada em sua direção. A seta o acertou, derrubando lhe inconsciente no chão.

Sua última visão foi o guarda restante ser pego como prisioneiro e tudo em chamas ao seu redor. Pela primeira vez, Basilius percebera: 

 

“Fazia realmente muito frio naquela noite”.

 

 

                                                                  2

 

      Da imensa janela do seu quarto no ponto mais alto do castelo imperial, Ellayne podia ver toda a grandeza da imensurável cidadela real que se estendia para além das vastas planícies verdes de Abaton Prime. Diante da magnífica visão, ela pensava em como o planeta, agora sede do governo galáctico, já fora lar de raças bárbaras e selvagens que sucumbiram perante o poder do grande Imperium, governado agora por ninguém menos que seu pai. Enquanto observava, Ellayne escutou barulhos de uma batida na porta do seu quarto.

 

      “Pode entrar” falou ela ao se virar e assumir uma posição mais formal, demonstrando seu status de nobreza. A porta do quarto se abriu e uma idosa de curtos cabelos brancos e vestida com roupas simples se apresentou, carregando em seus braços um longo vestido escarlate.

 

- Saudações alteza, como vai vosso dia? Seu pai me enviou para informa-lhe que vossa presença é requisitada no pórtico de entrada do palácio real.

 

“Ele quer que eu use a vestimenta das sacerdotisas” – Pensou Ellayne ao reparar no vestido escarlate que a senhora carregava – “Os embaixadores devem ter chegado”.

 

- Bom dia Teodora, obrigado por ter trazido o vestido até aqui... Foi meu pai que pediu para usa-lo?

 

A idosa caminhou até a beira da cama da princesa e colocou gentilmente o vestido em cima dela. Virando-se para a moça, fez que sim com a cabeça e andou em direção à magnífica janela.

 

- Seu pai faz questão que você o use, será um momento muito especial... Talvez o mais importante momento desde o fim da grande guerra.

 

- Então minha tese estava certa? – Ao perceber que Teodora notará a retorica em sua pergunta, sorriu levemente e pode notar que a idosa também sorria. – É linda não é? – perguntou, dirigindo o olhar para a visão da cidade que a posição e a janela de seu quarto proporcionavam.

 

- Sem dúvidas alteza! A cidadela é o orgulho de todos os cidadãos do Imperium.

 

- Gosto de ficar observando-a... Faz-me lembrar dos tempos da infância.

 

      Adorava ouvir aquelas histórias que você me contava, de como os antigos imperadores lutaram para poderem conquistar Abaton... Expulsando os selvagens que aqui viviam.

 

- Eram bons tempos – Teodora respondeu – lembro-me de você ansiosa para descobrir como eu conseguia fazer seus brinquedos flutuarem, pergunto-me se você ainda se lembra do dia que eu não aguentei mais e lhe contei. – Parou de falar, deixando sua mente acessar o mais profundo do seu subconsciente com o intuito de resgatar tais memórias. – Eram bons tempos...

 

- Mas é claro que lembro – falou, começando a rir de si mesma – foi a partir desse dia que você começou a me treinar.

 

- Olhe como as coisas são... Um dia desses você era apenas uma menininha chorona, e agora, se tornou uma das mais poderosas sacerdotisas do Imperium.

 

- Tudo isso graças a você!

 

- É, fiz um bom trabalho! – depois de uma longa respiração, continuou - Vejo você mais tarde Alteza, agora chega de recordar o passado, você deve se concentrar no que o dia de hoje significa.

 

      Desviando o olhar da janela, Teodora caminhou rumo à porta do quarto, virando-se e cumprimentando a princesa antes de sair. O quarto era amplo e tinha vários móveis, possuía paredes feitas de pedra e a iluminação se dava a partir de pequenas cápsulas de plasma foto-florescentes. A imensa janela ficava em uma das paredes laterais do quarto, do lado oposto à porta.

 

      Ainda pensativa Ellayne dirigiu-se ao vestido que fora posto sobre sua cama e se impressionou com a riqueza de detalhes que o mesmo possuía. Ele era completamente vermelho, exceto por pequenos e leves tons de preto que possuía nas laterais, a gola era alta e esticada para cima, o vestido cobria o corpo inteiro, exceto pelas mãos e pés. Junto com o vestido vinha um grande colar de ouro que carregava a grande águia, símbolo do Imperium. Antes de começar a se trocar, Ellayne pensou nas ultimas palavras de sua velha amiga. E em como elas foram pronunciadas naquele momento.

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      A cidadela real era a principal joia do Imperium, ninguém sabe ao certo quem a construiu, embora alguns arqueólogos e estudiosos apontem para a antiga raça dos ancestrais, uma lendária espécie de alta tecnologia e conhecimento que, segundo dizem as lendas, viveu no universo a muitos e muitos milênios atrás. Embora essa teoria a respeito da construção da cidadela pareça ridícula para alguns, talvez seja a maneira mais pratica para se explicar o esplendor de tal construção. Possuindo aproximadamente 3.500 km², a cidadela fora construída sob as vastas campinas verdes de Abaton Prime, uma região conhecida no universo inteiro por abrigar diversas ruínas de culturas de civilizações antigas. A cidade possuía um formato circular, circundada por altas muralhas; no centro do enorme círculo se encontrava a mais radiante estrutura encontrada naquele lugar, dois gigantescos pilares de formato semicircular que chegavam a quase se encontrarem nas extremidades mais altas, formando um gigantesco arco. Entre o espaço deixado pelos dois pilares existia uma enorme esfera de energia, que servia de fonte de energia para todo o resto da cidade. A poucos quilômetros de distancia dos pilares, situava-se o castelo real, lar do imperador e de toda sua família e criados.

 

      Um pouco ao leste do castelo real ficava um enorme pórtico que dava para um espaçoporto particular da realeza, onde, naquele dia, uma nave de transporte diplomática acabara de pousar. Perto do Pórtico estavam alguns lordes e senhores de diversos planetas pertencentes ao império.

 

- Milorde, a princesa acaba de chegar.

 

      Ao escutar as palavras pronunciadas pelo mensageiro, lorde Hartrad logo se virou para recepcionar a magnifica filha do imperador.

 

- Alteza – falou Hartrad, fazendo uma leve reverência ao perceber a jovem de cabelos escuros a sua frente.

 

- Hartrad – A princesa retribui-o o gesto de respeito – não sabia que meu pai mandara lhe chamar.

 

- É um momento especial... Já que todos os outros lordes se fizeram presentes, acho que vossa majestade consideraria um insulto de minha parte não comparecer.

 

- Tenho certeza que vossa majestade não se preocuparia com isso, ele anda tão ocupado com ações diplomáticas e acordos, que mal tem tempo para respirar. - Enquanto falava, Ellayne pode notar o sorriso sarcástico que Hartrad, ao ouvir suas ultimas palavras, tentara esconder muito bem.

 

- É uma pena de fato, o imperador anda muito cansado ultimamente, não possui mais o vigor e a bravura que detinha na juventude... – Parou e analisou cuidadosamente o manto escarlate que dava a Ellayne, uma beleza descomunal - Sua bela filha pelo contrario, está no auge de toda sua força... Não pense que não reparei no vestido típico das mais altas sacerdotisas.

“Um dia ele ira pagar por todas as ofensas dirigidas ao Imperador” – Pensara a princesa.

 

- Se não consegues respeitar meu pai, Hartrad, pelo menos poupe-me de tuas bajulações. Eu recomendaria que tu fostes mais cuidadoso com suas palavras... Ouvi falar de uma certa rebelião em Makatar, e parece-me que as coisas estão bem feias. – A fala de Ellayne saiu calma e devagar, seguida por um leve sorriso juvenil que dava a face da princesa uma expressão feérica.

 

- Se você se refere à rebelião dos nativos, não se preocupe, garanto-lhe que tudo já está para ser... concertado. – Percebeu que o Imperador estava chegando e continuou – Agora, se me permite alteza, gostaria de me despedir, e voltar para minha posição junto aos outros lordes.

 

      Sem falar nenhuma palavra, Ellayne reverenciou Hartrad e saiu em direção a seu pai, que acabara de chegar e estava rodeado por guerreiros armados com lanças e prontos para o combate, um deles carregava uma haste com o brasão do Império. Ao ver sua filha, o imperador fez um sinal para que dois dos homens que o escoltavam fossem protegê-la. O imperador caminhou até o pórtico e depois se dirigiu ao espaçoporto, onde a nave de transporte estava pousada.

 

      Ele era alto e imponente, possuía finos cabelos grisalhos e uma barba branca. Suas feições pareciam muito com as da filha, fato que fazia com que ele, assim como Ellayne, encantasse todos ao seu redor. Dentre todos os Imperadores, talvez ele, Octavius, fosse o segundo mais querido, perdendo apenas Primus, o falecido fundador do Império.  Aproximando-se da nave, o Imperador tomou a dianteira em relação a seus homens, e pronunciou com sua voz forte e determinada:

 

- Eu, Demitrius Leodegrance, sob o título de Octavius, filho legítimo da família de Septimus e portador do sangue dos primeiros imperadores, desembainho e ofereço a minha espada como prova de gratidão ao senhor das luas de Klevaron.

 

      Ao pronunciar essas palavras, a rampa de embarque da nave de transporte se abriu e cinco altos humanoides saíram de lá. Um deles andava na frente e os outros quatro o seguiam, dois de um lado e dois de outro. Todos trajavam finas roupas de tecido albino e caminhavam orgulhosamente até o Imperador. Não restavam mais dúvidas sobre a origem daquelas pessoas, todas as teorias de Ellayne estavam certas, e ela deu um sorriso, sem saber ao certo se isso era algo bom ou ruim.

 

“Elfos” ela pensará, “depois de tanto tempo”... “Elfos em Abaton Prime”.

Os elfos caminharam em direção ao Imperador e, com a leveza e o orgulho que os caracterizavam, o que estava no centro falou:

 

- Saudações Majestade, infelizmente o senhor Alaruel não pôde vir, me chamo Aglerion, sou o primeiro ministro do rei e fui mandado aqui para tratar dos acordos de paz.

 

- Esperava que o rei viesse pessoalmente já que se trata de um assunto de tão grande importância. – Falou o imperador, aproximando-se do grupo.

 

- Meu senhor pede desculpas por não ter comparecido, ele lhe garante que vira assim que possível. Agora, por que não começamos a tratar de negócios?

 

    Depois de fazer tal sugestão, o imperador e o grupo de elfos se dirigiram de volta ao grande pórtico, onde os lordes e a princesa observavam tudo atentamente.

 

 

                                                 3

 

 

Já fazia mais de 100 anos que um alto elfo não pisava em Abaton prime. Reuniões e encontros diplomáticos eram realizados esporadicamente nalgum mundo neutro espalhado pela imensidão da galáxia, porém a presença de um alto elfo no planeta sede do Imperium era algo realmente novo. Desde o fim da última grande guerra, os humanos e os elfos compartilham de um sentimento de aversão alheio, fato provocado pelas inúmeras consequências daquele terrível conflito civil que marcou o fim do grande governo galáctico – a Federação – e a dividiu nos dois principais impérios existentes no momento: O Imperium, formado pelos diversos mundos colonizados pelos humanos e outras raças e, A aliança de Nau’Shador, conjunto de tribos com descendência alta-élfica que se submeteram a vontade do hierarca. Fora desses dois impérios, existiam ainda povos de diversas raças que vagavam pelo universo a sua própria sorte, construindo reinos independentes ou trabalhando na vilania de caçadores de recompensas, contrabandistas ou piratas.

Um dia havia se passado desde a chegada dos altos elfos no planeta sede do Imperium. O principal motivo desse nada comum encontro era tentar por um fim de vez ao conflito econômico que assolava ambos impérios. Por causa da antiga rixa entre os povos, a Aliança e o Imperium não comercializavam nenhum tipo de mercadoria entre si e tentavam se estabilizar apenas com os mundos colonizados. Com o passar do tempo, porém, o limite dos setores planetários que da Aliança e o império dominavam começaram a se estreitar. Para evitar um possível conflito e se lembrando do terror e caos que foi a ultima grande guerra, Alaruel e Demitrius decidiram criar um acordo que unificasse, em parte, a economia de ambos os impérios.

- Três mundos e os setores perto do cinturão de Says’thy – falou o Alto elfo líder da comitiva que viera até Abaton Prime – isso é tudo que meu senhor pode conceder.

- Apenas três mundos? – questionou um dos lordes que estavam perante a mesa de reuniões do conselho no castelo principal de Abaton Prime. – Um tratado desses merece muito mais, diria o dobro de mundos, além do livre comercio com os mundos da aliança.

Um dos elfos da comitiva levantou a voz e, calmamente, falou:

- A aliança já alegou que permitirá o comércio controlado dentro de próprio território, a todos os comerciantes será cobrada uma taxa por cada mundo que adentrar, além disso cada comerciante terá sua vida examinada.

Rurtik, lorde do pequeno setor minerário de Glaidon, se levantou e exclamou, irritado:

- Como pode o Imperium assinar um tratado que acabará trazendo ainda mais problemas econômicos para si? Eu digo que esses malditos elfos querem é nos extorquir, como sempre fizeram.

- Perdoe-me pela franqueza meu caro lorde – quem falava era Aglerion - mas apenas não queremos a escória contrabandista dentro de nossos territórios... O comercio dos altos elfos sempre foi limpo e continuará sendo, além do ma...

Antes de Aglerion terminar de falar, um pequeno grupo de alienígenas humanoides, representantes de uma facção mercenária, começou a discutir entre si e a acusar os altos elfos de ignorância e hipocrisia, pouco a pouco a sala do conselho foi tomada por uma estressante discussão. Ellayne escutava tudo com muita atenção, mas foi quando seu pai bateu um pequeno martelo em cima da mesa, que ela realmente se interessou.

- Silêncio – gritou Demitrius Leodegrance, de título Octavius, imperador do Imperium – admiro as suas virtudes e a do seu povo, meu caro Aglerion, entretanto gostaria de lembra-los que o objetivo principal desta reunião é acabarmos com todas as barreiras que ainda mantem o Imperium e a aliança separados... tudo será amplamente mais fácil se ambos os lados concordarem. Além das cinco colônias que já apresentei, acrescento ainda o antigo planeta de Tarantis, mundo de extrema posição estratégica e rico nos mais diversos tipos de materiais. – parou para pensar um pouco e percebeu que todos os outros lordes o olhavam com um ar de desaprovação – tudo isso é claro, pelo livre acesso dos comerciantes aos mundos pertencentes a aliança.

A sala do conselho ficou em pleno silêncio, uma parte dos lordes não acreditavam no que o imperador acabara de dizer, outra parte sentia uma imensa vontade de discordar de sua opinião, ambos os lados ficaram calados, pois sabiam que ninguém em sã consciência deveria discordar da palavra de um imperador.  

Perplexos, os elfos não sabiam exatamente o que responder. Tarantis ficava a poucos parsecs de distância em relação a Abaton, além disso o planeta era um dos mais ricos da galáxia, perdendo apenas para as luas de Klevaron e o próprio Abaton.

- Irei averiguar essa situação com meu senhor – foi o que Aglerion conseguiu dizer – amanhã retorno com uma resposta para enfim, assinarmos nosso tratado.

Levantando-se com leveza e calma, os cinco elfos fizeram uma breve referência, típica de sua raça e se retiraram da sala, sem a preocupação exagerada em agradar o imperador que os lordes tinham. Alguns até dizem que essa típica atitude élfica é feita com o único e exclusivo propósito de demonstrar a não autoridade do imperador perante os altos elfos.  Assim que os elfos saíram, Demitrius se levantou e falou aos seus súditos:

- Fiz o que fiz por uma razão, sinto um grande mal se aproximando e acredito que os elfos serão de grande ajuda, não chegaríamos nunca a um acordo a menos que deixemos os elfos pensarem que saíram na melhor. Eles acabarão por aceitar essa proposta, Tarantis será de grande utilidade ao senhor Alaruel, precisamos deixar de vê-los como uma ameaça.

“Tomara que eles também pensem isso de nós” – Pensou Hartrad, que se retirava no momento.

Pouco a pouco os lordes foram se retirando, até ficarem no salão apenas Ellayne, seu pai e os guardas reais.

- Pai – exclamou a jovem de volumosos cabelos escuros que andava em direção ao imperador – o senhor teria um minuto?

- Mas é claro filha, depois de um dia desses vê-la é um colírio para os meus olhos.

- Como o senhor bem sabe, meu treinamento como sacerdotisa real está quase se completando, recentemente recebi uma carta de um dos magos da ordem exigindo minha presença no mundo-templo de Valkaria, para começar meu treinamento em artes que não são ensinadas aqui. Queria pedir vossa permissão para ir ao planeta e concluir meu treinamento.

- Eu bem gostaria que você não fosse... Esses últimos estágios de negociação a subiriam muito em sua experiência como diplomata, mas você tem minha permissão, de certo modo orgulho-me de vê-la se tornando uma das melhores sacerdotisas.

- Obrigado Pai, prometo que não irei decepciona-lo.

Antes de se virar, Ellayne fez uma majestosa reverência e seguiu caminhando em direção à saída. Antes que a princesa chegasse a imensa porta do salão, um alienígena com feições de sapo e fardado com a roupa dos mensageiros imperias, adentrou apressadamente o recinto. Após se curvar perante o imperador o alienígena falou:

- Majestade, trago notícias – parou por um tempo pensando cuidadosamente nas palavras – terríveis notícias... Haerbaron... Haerbaron declarou total independência em relação ao império.

 

 

 

                                                               4

 

 

- Estamos prontos para o salto, Kya?

Ouvindo a pergunta, Khyara, uma jovem humana de seus 19 anos, de estatura mediana, olhos claros e de curtos cabelos ruivos com o rosto repleto de sardas, desceu da escada que conduzia ao reator hiper espacial da Águia dourada, uma pequena nave exploradora com lugar para 15 pessoas no máximo.

- Tudo certo Ward, o reator estava com pequenos defeitos, o de sempre sabe, mas acabo de consertar.

- Você é a melhor – Exlamou Giward.

- É, eu sei – disse Kya, orgulhosamente.

- Agora volte para a ponte, tu vai fritar se ficar ai atrás quando entrarmos no hiperespaço.

- Cê que manda chefe.

Depois de ajustar alguns controles, Giward falou pelo comunicador:

- Então Hurgin, podemos?

Hurgin, um típico delveriano de longa barba castanha que trajava uma camiseta de couro sem mangas e longas luvas e botas escuras, estava sentado numa cadeira feita especialmente para seu tamanho menor que o normal, analisando alguns mapas estelares na sala de navegação, enquanto digitava coordenadas no primitivo computador de navegação espacial.

- Tudo certo chefe, acabei de inserir as coordenadas no computador, se minha tese estiver correta, chegaremos num mundo que ainda não foi explorado.

- É bom que sua tese esteja certa – Giward parou um pouco pondo um leve sorriso irônico no rosto – do contrário vamos todos morrer.

            Khyara, que agora estava ocupando o seu lugar na ponte, começou a configurar os comandos para a entrada no hiperespaço, digitando sequencias de números na tela de navegação enquanto Giward estava no leme colocando a nave na rota traçada por Hurgin.

            Quando a nave estava na posição correta, Giward puxou para baixo uma alavanca que se encontrava perto do leme e, em questões de milissegundos, a pequena nave exploradora que até então permanecera parada em algum lugar do setor Éfira, agora rasgava a galáxia percorrendo trilhões de quilômetros e, em questão de minutos, se encontrava a quarenta e cinco mil parsecs de distancia da sua posição anterior, em frente a um planeta completamente desconhecido.

- Parece que você estava realmente certo Hurgin, um mundo nunca antes explorado.

- Pois é Kya, vamos fazer muito dinheiro aqui.

Giward, que estava atento aos indicadores dos painéis sensoriais que analisavam o planeta, começou a dirigir a nave, fazendo-a adentrar a superfície da esfera de coloração amarronzada. Todos os três tripulantes da Águia dourada observavam atentamente o novo mundo que haviam encontrado. A superfície era completamente tomada por grandes cadeias de montanhas sob um árido solo, dificilmente se via árvores, água ou qualquer coisa que apontasse para a existência de vida.

- Algum sinal de ruínas, Hurgin? Ou será que essa nossa descoberta não valeu a pena?

- Sim, e... – parou por um tempo parecendo confuso – Não... Ainda não sei dizer chefe, não estou conseguindo compreender o holomapa dessa região.

Tanto Giward quanto Khyara se surpreenderam com a resposta de Hurgin. Delverianos eram conhecidos em toda a galáxia por serem os melhores geógrafos que existiam no universo, principalmente no que dizia respeito a encontrar sinais que indicassem ruínas dos antigos “ancestrais”. Era quase impossível encontrar algum grupo de exploradores que não tivesse um delveriano em sua tripulação.

- Como assim não está entendendo? – Perguntou Ward, sem compreender direito o que estava acontecendo. – Existem ou não existem registros de ruínas aqui?

            Ainda tentando entender o mapa holográfico do planeta que estava estendido perante a mesa de navegação, Hurgin respondeu a pergunta de Ward com qualquer coisa que lhe veio a mente, falando coisas sem sentido e dando respostas ambíguas como “sim e não” ou “não como nós conhecemos”, por fim pediu que Giward e Khyara se dirigissem a sala de navegação.

- Pode nos explicar agora? – A expressão de confusão era evidente na cara pálida de Giward.

- É claro – respondeu Hurgin, apertou alguns botões no holomapa, e continuou com uma longa explicação – como vocês bem sabem, o motivo do nosso trabalho é explorar a galáxia no intuito de encontrar mundos que tenham sido habitados pela raça que nos todos conhecemos como os ancestrais. Essa raça era detentora de um conhecimento que está a anos-luz do nosso, toda nossa primitiva tecnologia depende dos vestígios energéticos deixados por essa civilização, e encontramos esses vestígios nas ruínas dos ancestrais, e é ai que entra o problema... A arquitetura e o estilo de construção dos ancestrais, estranhamente segue sempre um padrão; em todos os mundos que apresentam ruinas, essas ruínas apresentam as mesmas características, os delverianos são especialistas em estudar essas características, ai fica muito mais fácil encontrar vestígios energéticos. – Ampliou o mapa e clicou em um botão que fez aparecer lentamente vários pontos vermelhos, até o planeta estar inteiramente coberto pelo vermelho – entendem agora? A energia não está concentrada em apenas uma região, onde no caso estariam as ruínas... Ela está concentrada no planeta inteiro, o que me leva a acreditar que existem ruinas subterrâneas, e os ancestrais nunca construíram nada no subsolo.

            Khyara, que tentava organizar todas aquelas informações, se aproximou do holomapa e dirigiu uma pergunta ao delveriano.

- Está dizendo que acabamos de descobrir uma nova informação a respeito dos ancestrais?

            Hurgin olhou devagar para Khyara, e respondeu ansiosamente.

- Estou dizendo que, ou entre centenas de mundos já explorados os ancestrais resolveram fazer algo diferente exatamente neste aqui, que aparentemente não tem nada de valor, ou essas ruínas subterrâneas, se é que elas existem, são de algum povo que não temos nenhum conhecimento... Algum povo que também dominava a energia. 

            Os dois ouvintes ficaram pasmos com a ideia de que outra civilização também tinha o domínio sobre as fontes energéticas. Boa parte da galáxia já havia sido mapeada e sempre as ruínas que continham objetos ou ferramentas armazenadoras de energia eram antigas cidades, templos ou vilarejos dos ancestrais, agora parecia que uma nova civilização também compartilhava da mesma tecnologia, uma civilização nunca antes estudada.

“Isso vai além das descobertas de um simples explorador” – Pensou Giward – “Os arquivistas do império pagariam muito bem por essa informação”.

            Olhando sorridente para os dois tripulantes, Ward falou:

- Caros companheiros, encontramos uma verdadeira mina de ouro. Preparem o material, irei pousar a nave em algum lugar que de acesso ao subsolo e continuaremos a exploração lá. Vamos recuperar o máximo possível de material energético para vendê-lo em Myrark.

            Após terminar de falar, o capitão da águia dourada se dirigiu a ponte, onde começou a sobrevoar todo o planeta, procurando alguma caverna ou estrutura que desse acesso ao subterrâneo. Kya e Hurgin permaneceram parados olhando um para o outro, pensando se a decisão de descer em um planeta completamente desconhecido que muito provavelmente fora lar de uma civilização de grande tecnologia ao qual ninguém tinha a menor informação teria sido uma boa ideia. Por fim, Hurgin quebrou o silêncio.

- É o nosso emprego, somos exploradores, exploradores, lembra?

            Concordando, Khyara se dirigiu ao seu pequeno quarto para pegar os equipamentos básicos de exploração. Uma lanterna, o aparelho de comunicação, um sensor energético, algumas adagas e um arco de energia curto que ela levava para onde fosse. Hurgin se preparou levando consigo uma picareta, uma pá, um machado de aço e alguns dispositivos detonadores. Ward levava aparelhos de sonda, um controle para controlar remotamente a nave, duas armas de raios de curto alcance e uma espada longa presa na cintura. Todos vestiam capas marrons protetoras por cima de suas vestimentas comuns.  

            Demorou um pouco até que eles encontrassem alguma entrada para o subsolo. O terreno daquele planeta era muito irregular e os acessos que eles achavam ficavam geralmente em montanhas ou colinas, impossibilitando que a nave pousasse. Até que Hurgin conseguiu, através do holomapa, encontrar uma caverna perto de uma das poucas planícies que o planeta apresentava.

            Ward pousou a nave e todos os três se dirigiram a rampa de descida. Desceram e puderam inicialmente perceber que o ar era bastante rarefeito.

- É, parece que não morremos no hiperespaço para morrermos aqui – falou Hurgin, sarcasticamente.

- E depois eu que sou o pessimista – retrucou Giward – Vamos entrar na caverna logo, o quanto antes sairmos daqui, melhor.

            O planeta possuía uma aparência peculiar. Sem sinais água ou vida, parecia apenas um gigantesco deserto árido e pedregoso, com altas montanhas e extensas cavernas. A forte ventania que parecia estar presente em qualquer lugar que fossem, fez os três exploradores agradecerem aos céus por terem trazido as capas consigo. Caminharam com dificuldade cerca de um quilômetro até encontrarem a caverna, chegando lá Khyara deu a lanterna para Hurgin que tomou à dianteira e começou a guiar o pequeno grupo por entre grandes e extensos túneis escuros, mundo adentro.

 

 

 

 

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